domingo, 31 de outubro de 2010

Capítulo 11


Ansiedade


            - Por que é que me estás a acordar?!
            - Levanta-te. Já são quase horas de almoço.
            - Estás a gozar! Ainda nem devem passar das sete da manhã…
            - Não estou a gozar, a sério. Anda.
            Abanei-o uma vez mais mas Ryan parecia teimoso em não se levantar. Sophie já estava na banheira a tomar duche, e Niza tentava acordar Peter. Chris já tinha ido para o quarto dos rapazes para se arranjar.
            - Ryan, a sério, daqui a nada vêm à nossa procura e eu não quero arranjar problemas. Vá lá, acorda.
            Ele resmungou qualquer coisa que não compreendi e depois abriu os olhos e ajudei-o a sentar-se na cama, contente por ter vencido o sono dele.
            - Parecias a minha mãe…
            Afastei-me imediatamente de qualquer pensamento sobre parentes meus ou de outra pessoa e ignorei o comentário de Ryan, que não tinha bem noção do que estava a dizer por ainda estar meio adormecido.
            - Anda, servem o almoço daqui a pouco.
            Ele tornou a resmungar e depois levantou-se e eu levei-o até à porta do quarto, sorrindo-lhe.
            - Obrigada pela festa de ontem. Estava mesmo a precisar de animar um bocadinho.
            - Eu sei Kiara. Pressinto quando estás a precisar de ser animada.
            Sorri e soube que aquilo que ele dizia era a verdade. Ryan notava sempre. O meu talismã contra a infelicidade.
            - Obrigada na mesma.
            - OK. Agora vou-me arranjar está bem? Até já.
            Saiu e viu-o a desaparecer na curva do corredor. Depois voltei para dentro do quarto. Peter também já se tinha levantado e preparava-se para sair. Sophie estava a sair da casa de banho, com o corpo enrolado na toalha de banho, e Niza apressou-se a levar Peter para fora do quarto.
            - Então Kiara, gostaste da mini festa? - Perguntou Sophie, sorrindo.
            E ao contrário do que eu pensaria que pudesse fazer, disse a verdade absoluta quando lhe respondi.
            - Adorei. A sério, obrigada por me terem alegrado.
            - É para isso que cá estamos. - Sorriu ela, e depois foi para junto do seu roupeiro para escolher a roupa desse dia.
            Fui para a casa de banho para tomar banho e arranjar-me para mais um Domingo na Blackstone Private School. Quando fiquei pronta, segui com as minhas duas amigas para o salão de refeições e sentámo-nos, à espera dos rapazes para nos irmos servir de comida. Mas enquanto estávamos à espera, Mariah surgiu ao meu lado.
            - Olá Kiara!
            - Oi Mariah. Estás boa?
            Apesar de não gostar muito dela, tinha de ser simpática e mostrar-me amigável. Se eu não fizesse isso, Kalissa arranjaria maneira de tornar tudo num Inferno ainda pior.
            - Estou. Hoje vai haver treino da Claque. Gostaríamos que estivesses presente. - Disse ela, na sua voz pomposa.
            Assenti e continuei a sorrir-lhe.
            - Contem comigo.
            Não sei dizer se ela ficou muito contente com a minha resposta, porque deu logo meia-volta e foi-se embora para junto das Raparigas da Claque, e não tornou a olhar mais na minha direcção.
            Eu ia ficar a pensar numa maneira de terminar com aquela fachada toda se Ryan, Peter e Chris não tivessem chegado e não se sentassem connosco na mesa.
            - Vamos comer? Vá lá, estou a morrer de fome. - Disse Ryan.
            Fomos buscar os pequenos-almoços e tornámos a sentar-nos, comendo em silêncio durante os primeiros minutos. Chris tinha o olhar pregado no meu, e eu soube o que ele estava a fazer. Sorri como se estivesse a provocá-lo e imaginei a parede invisível que o impedia de aceder aos meus sentimentos. Pensei nela com tanta convicção que foi como se realmente Chris esbarrasse numa parede de tijolos. O espanto no seu rosto fez-me rir à gargalhada.
            - O que se passa com vocês os dois? - Perguntou Peter.
            - Estou só a brincar com ele. - Sussurrei.
            Chris sorriu-me de modo perverso e semicerrou os olhos. Aquela expressão fazia-me lembrar um tigre preparando-se para atacar a sua vítima, mas primeiro querendo fazê-la sofrer ao brincar com ela. Eu mantive a ideia da parede invisível bem forte na minha cabeça e durante uns momentos nenhum de nós disse ou fez nada, limitando-os a lutar em silêncio apenas por sensações e ideias. No fim, Chris resmungou e afastou-se de mim. Não me tinha apercebido, mas estávamos ambos debruçados sobre a mesa do refeitório, com os rostos muito próximos enquanto nos defrontávamos. Quando ele se afastou eu fiz o mesmo e soltei uma genuína gargalhada alegre.
            - Estás muito forte hoje. Demasiado concentrada. - Riu-se ele.
            O som da sua gargalhada era agradável. Aquele riso que eu daria tudo para continuar a ouvir para sempre.
            - Tenta mais tarde e pode ser que me apanhes desprevenida.
            - Vou tentar.
            Continuei a comer, tentando não corar. Quando acabámos o pequeno-almoço, segui com eles para fora do refeitório. Era Domingo e tínhamos um teste na semana seguinte, pelo que devíamos começar a estudar.
            - Vamos para a biblioteca, OK? - Sugeriu Niza.
            - Pensei que a Sala de Convívio também servisse como sala de estudo. - Murmurei, seguindo atrás dela.
             - E serve, mas está lá sempre tanta gente que não te consegues concentrar em condições. - Disse ela.
            Sophie veio connosco até ao quarto para irmos buscar os livros e os cadernos e depois fomos para a biblioteca do castelo. Aquela devia ser uma das divisões menos mudada desde o tempo em que a realeza habitara ali. As paredes altas pareciam feitas de estantes cheias de livros e mais livros, e no centro da divisão havia uma espécie de patamar mais elevado com mesas e cadeiras onde alguns alunos estavam sentados a estudar. Os rapazes vieram atrás de nós até uma mesa larga e sentámo-nos lá. Fiquei com Chris à minha direita e Sophie à minha esquerda. Abri o livro de Físico-Química e comecei a ler, a tentar compreender.
            Eu nunca soube muito bem como era estudar em grupo porque nas minhas escolas anteriores nunca me convidavam para trabalhos de grupo. Mas depressa percebi que estudar com Ryan, Chris e Peter na mesma sala era impossível. Eles passavam mais tempo a fazer piadas e a rir à gargalhada do que a resolver exercícios, e quando faltava menos de uma hora para o almoço eu desisti de tentar concentrar-me e olhei para Ryan de modo reprovador.
            - Vocês ainda não devem ter compreendido nada da matéria.
            - Oh Kiara, vá lá, o teste corre sempre bem! - Resmungou Peter, piscando-me o olho.
            Revirei os olhos e continuei a estudar. Chris riu-se baixinho e aproximou-se mais de mim.
            - Já que estás tão empenhada nisso... ajuda-me a resolver este exercício aqui, se não te importares.
            Suspirei e expliquei-lhe como fazer os cálculos. Pelo menos Chris não teve a infeliz ideia de brincar com o meu esforço e parecia realmente interessado na minha maneira de explicar. Quando acabei, ele fez-me perguntas sobre aquilo que eu tinha estado a estudar, enquanto Sophie se entretinha a brincar com Ryan e Niza tentava fazer com que Peter se empenhasse.
            O tempo de estudo finalmente acabou e arrumámos as nossas coisas, saindo da biblioteca. Fui com Niza e Sophie deixar os nossos pertences no quarto e depois seguimos para o salão de refeições para comermos. Vi Mariah a olhar para mim do outro lado do salão e decidi ir falar com ela antes de ir buscar a comida.
            - Vão comendo, eu não demoro nada. - Disse para Sophie.
            Nem lhe dei tempo de começar a protestar por ver com quem eu ia ter, dei meia-volta e encaminhei-me para a zona onde Mariah e as restantes Raparigas da Claque estavam sentadas a almoçar.
            - Olá Mariah.
            - Olá.
            - A que horas começa o treino? - Perguntei, tentando parecer muito interessada.
            - Às quatro da tarde, está bem?
            - Sim. Vemo-nos lá.
            - OK.
            Voltei para a mesa do meu grupo e sentei-me. Não sabia explicar bem porquê, mas Mariah irritava-me solenemente. Eu nunca tinha conversado muito com ela - eu não, Kalissa sim de certeza absoluta - mas já conseguia entender o quão irritante e convencida aquela miúda era. Como se achasse que o mundo inteiro girava à volta dela. Mas pela minha saúde e pela dos meus amigos era bom que eu continuasse a dar-me bem com ela, não fosse Kalissa deitar tudo por água abaixo.
            Durante todo o almoço eu estava abstraída dali. Só conseguia pensar nalgo que não devia realmente, mas que não me saía da cabeça.
            Eu tinha de ir a Auburn.
            Mas John jamais me deixaria sair do castelo sem protecção. No entanto… eu queria ver a campa dos meus tios, queria deixar lá flores, queria falar com eles. Depois até poderia voltar para o colégio mas não ficaria em paz até fazer isso.
            - Kiara… agora está a ser fácil de mais.
            Levantei o olhar para o cravar em Chris, que sorria provocadoramente.
            - Então em que é que eu estou a pensar neste momento?
            Ele franziu a testa como se aquilo fosse algo muito difícil de saber.
            - Algo está a preocupar-te. Algo que não queres contar-nos.
            Eu ri-me à gargalhada, tentando disfarçar.
            - Tens futuro como médium.       
            Ele revirou os olhos e continuou a comer.
            Depois do almoço fomos para o exterior. Estava demasiado bom tempo para ficar dentro das paredes do castelo. Seguimos até à clareira do desporto e deixámo-nos ficar sentados na relva, junto às árvores no limiar do bosque.
            - Então vais treinar com elas, não é? - Perguntou Ryan.
            - Terá de ser.
            - Se não gostas dos treinos… por que é que continuas a ser uma Rapariga da Claque? - Perguntou Niza.
            Eu não sabia o que lhe dizer. Não podia contar-lhe a verdade. Limite-me a suspirar.
            - Eu até gosto de fazer parte da claque… mas não gosto da Mariah.
            - Pois, dessa nenhuma de nós gosta. - Concordou Sophie.
            Tive a impressão de que os rapazes discordavam dessa opinião, mas felizmente mantiveram-se calados.
            Mas eu não sentia apenas irritação pela Mariah. Sentia também… pena. Porque o que quer que Kalissa lhe fosse fazer, não seria nada bom.
            Deixei-me ficar em silêncio, sem querer saber da conversa que Ryan, Peter e Sophie mantinham entre eles. O aroma das folhas das árvores era bom o suficiente para me distrair do resto.
            Quando chegou a hora do treino da Claque fui para o balneário feminino para me equipar e depois fui ter com Mariah e com as suas amigas ao local onde elas já estavam reunidas.
            - Ah Kiara, ainda bem que já chegaste! Agora já podemos começar. - Sorriu Mariah.
            Foi ligar o rádio e colocou-se à nossa frente. E depois começou a fazer uma coreografia que eu achava impossível de conseguir imitar, torcendo-se e esticando-se como se fosse uma boneca de plástico, e no fim nós tivemos de repetir os seus movimentos.
            Ficámos mais de quatro horas naquilo e o treino foi bastante intenso, mas pelo menos ela não embirrou comigo nem disse que eu não sabia dançar e que não estava à altura daquele cargo. Acho que me safei bem.
            Assim que acabou o treino despedi-me delas e corri até ao balneário para trocar de roupa e corri até ao castelo. Já estava a anoitecer e eu ainda tinha de tomar banho antes do jantar, por isso despachei-me o mais depressa que consegui. Depois desci até à Sala de Convívio, onde o meu grupo estava reunido à espera do jantar. Aproximei-me deles e sentei-me ao lado de Sophie e de Chris. Eles estavam a ver televisão.
            - Tu danças mesmo bem, sabias? - Elogiou Chris.
            Corei e lembrei-me subitamente do sonho que tivera na noite anterior.
            - Obrigada.
            - Acho que devias mesmo continuar na Claque. Ignora a Mariah. Se aquilo é importante para ti não tens de abdicar por causa dela.
            Sorri e continuei a olhar para ele. Chris era mesmo fantástico.


            Os dias no colégio foram passando. Os testes da semana seguinte correram bem. As aulas continuaram com o mesmo grau de dificuldade que as restantes, e a relação com o meu grupo também ia bem. E eu estava feliz por Kalissa não andar a interferir, por se manter quieta no fundo da minha cabeça. Era tudo mais fácil quando ela não se exibia.
            Estávamos na noite de sexta-feira. O meu grupo e eu estávamos sentados nos sofás da Sala de Convívio a ver televisão. Tínhamos acabado de jantar há mais de duas horas e o cansaço da semana de testes estava a apoderar-se de mim. Mal conseguia manter os olhos abertos, apesar de Niza ter insistido que o filme da televisão era muito interessante.
            - Tens sono, Kiara? - Perguntou Chris.
            Eu assenti e ele puxou-me para os seus braços, deixando-me descansar a cabeça no seu colo. Fechei os olhos e sorri, aninhando-me nele.
            - Obrigada. - Murmurei.
            Ele recostou-se no sofá para me colocar mais confortavelmente e depois começou a fazer-me festas no cabelo, acalmando-me tanto que eu ia jurar que adormeceria profundamente se Niza não se tivesse rido à gargalhada com algo que vira no filme. Mas sabia bem estar ali junto a Chris sem ter de falar de nada. Ele compreendia como eu gostava do silêncio naqueles momentos.
            Perto da uma da manhã, senti-o a mexer-se e a levantar-se, tendo cuidado para não me acordar, mas já não valia a pena. Abri os olhos e levantei-me também.
            - Vamos para o quarto? Daqui a pouco vem por aí o guarda à nossa procura.
            Acenei com a cabeça e ele puxou-me consigo pela mão. Eu estava tão cambaleante que ele até tinha vontade de rir. Levou-me até ao meu dormitório e depois abriu a porta devagarinho.
            - Por que é que não me acordaste quando a Niza e a Sophie vieram para cima? - Perguntei, baixinho.
            - Estavas a dormir tão bem que não tive coragem para te acordar.
            Sorri-lhe de modo irónico e beijei-o no rosto antes de ir em direcção à cama. Nem tive forças para trocar de roupa, deixei-me adormecer em cima da cama e pronto.
           

            No Sábado passei a manhã toda a estudar com eles até ao almoço, e como não tinha treino da Claque, fiquei a ver televisão com eles na Sala de Convívio. Lá fora chovia a potes. A chegada de Outubro fazia-se com chuva e frio e eu já tinha começado a vestir roupa mais quente. Nessa tarde estávamos a ver a MTV mas eu não estava muito preocupada com isso. Na minha cabeça pensava numa maneira de continuar a manter Kalissa afastada do controlo. Nem dei por Chris me estender a mão.
            - O que se passa? - Perguntei, olhando para ele.
            - Vem comigo.
            Levantei-me e peguei na sua mão. Chris lançou um olhar intenso a Ryan, que assentiu uma só vez, e fui com Chris para fora da Sala de Convívio. Não andávamos depressa porque não havia pressa de ir a lado nenhum. Mas Chris estava preocupado com alguma coisa e eu queria saber o que era, mas ele não falava.
            - Chris… por que é que me pediste que viesse contigo?
            Ele abrandou o passo mas continuou sem dizer nada. Eu ainda não tinha ido àquele corredor em especial porque ficava muito afastado do caminho que eu fazia todos os dias. Mas Chris tinha-me levado para ali por algum motivo em especial. Não estava mais ninguém naquele corredor sombrio.
            - Chris…
            Ele aproximou-se mais de mim, parecendo cada vez mais preocupado.
            - Kiara… eu queria dizer-te uma coisa… mas não podia ser com os outros junto a nós.
            Eu não sabia dizer porquê mas comecei a sentir-me esquisita. Recuei até à parede e Chris ficou mesmo à minha frente.
            - O que é que é assim tão importante e secreto que os outros não possam saber? - Perguntei, sentindo a voz a falhar.
            Ele aproximou-se tanto que já podia falar baixinho e eu compreenderia tudo à mesma.
            - Eu tenho estado a pensar…
            - Sim?
            - Tu gostas de estar aqui connosco, não gostas?
            Engoli em seco. Aquela pergunta tinha rasteira, de certeza, mas eu ainda não tinha descoberto qual era por isso de certeza que ia cair.
            - Claro.
            - É que… por vezes pareces… ansiosa, distante… como se algo fora do castelo te preocupasse… são os teus pais?
            Tentei não chorar. Ele compreendia-me muito melhor do que parecia.   
            - Não. Eu já não me dava muito bem com os meus pais e agora… sinto-me bem aqui dentro.
            - Então o que é que te preocupa?
            Eu não sabia o que lhe dizer porque não queria mentir-lhe mas também não tinha coragem para lhe falar da Kalissa.
            - A escola. E adaptar-me a tudo aqui dentro. E manter-me calma.
            Ele estava agora tão próximo que eu comecei a sentir-me a tremer embora não quisesse, e de repente a mesma sensação que eu tivera no sonho entrou-me na cabeça, fazendo-me engolir em seco. Aqueles olhos como duas turquesas fizeram-me sentir pequenina e vulnerável e não sabia o que dizer nem o que fazer para impedir Chris de se aproximar mais. Porque eu deixei de saber se queria que ele estivesse perto de mim ou não.
            - Chris… - Comecei a dizer, mas depois não fui capaz de terminar.
            Já sentia a respiração dele a fundir-se com a minha, quente e doce. Fechei os olhos para não ter de continuar a fixar o meu olhar com o seu. O que estava a acontecer? O que se ia passar? O que é que Chris tinha na cabeça para fazer aquilo?
            - Não sei… ainda não descobri… uma maneira de te fazer entender que podes confiar em mim… - Sussurrou ele, com os lábios a poucos centímetros dos meus.
            Eu não estava em condições de falar. Tudo à minha volta tinha desaparecido num borrão escuro e só interessava Chris, parado muito próximo de mim, de olhos cravados nos meus.
            - Eu confio em ti. - Murmurei.
            Era verdade. Eu confiava mais em Chris do que em Ryan ou Peter. Ele era o meu melhor amigo. Aquela pessoa sem a qual eu já não me imaginava a viver. No entanto, era esquisito tê-lo ali tão próximo de mim.
            - Não faças isso. - Consegui finalmente dizer.
            Então ele parou, como se tivesse apanhado um choque verdadeiro, ficando ali junto a mim mas sem avançar mais. Eu inspirei fundo - o seu cheiro estava em toda à parte, tão fortemente atraente que eu me senti tentada a chegar-me mais para ele mas controlei-me - que não fui capaz de aguentar a ansiedade que me corria nas veias naquele momento.
            - Porquê? - A sua voz já estava a passar de doce para magoada.     
            Porquê? Por mil motivos diferentes, mas sobretudo… porque eu não sabia se conseguiria parar quando ele me beijasse. Era uma sensação sufocante, opressiva, fazia-me quase desmaiar só de pensar nela.
            - Porque eu não quero que me beijes…
            As minhas mãos crisparam-se na parede atrás de mim quando percebi que estava a mentir. O meu coração batia tão depressa e com tanta força que de certeza que Chris o ouvia claramente. Era um sinal de que eu estava a mentir. Um sinal bastante óbvio que queria que ele me beijasse, no entanto, ele obedeceu ao meu pedido.
            Eu nunca tinha sido amada a sério, por isso, também não sabia amar outra pessoa em condições.
            - Tudo bem.
            Recuou, ficando a meio metro de mim, e eu pude respirar melhor. Baixei a cabeça, não querendo encará-lo, e respirei tanto que os meus pulmões começaram a doer-me, mas o aroma intenso de Chris ainda estava à minha volta.
            - Desculpa. - Sussurrei.
            Ele não me respondeu. Limitou-se a encostar uma mão à minha face e a sorrir ternamente.
            - Não faz mal. Tu não estás bem e eu entendo isso.
            Engasguei-me e tossi para aclarar a voz.
            - Eu estou bem.
            - Não estás não. Entende de uma vez por todas, Kia: eu sou o único que já entendeu que não és quem dizes ser.
            Cravei o meu olhar no dele, sentindo o poder das suas palavras a entrar na minha cabeça e a alojar-se lá para jamais sair. Vi o desejo naqueles olhos azuis-claros e mordi o lábio inferior para me controlar e não desatar a gritar e a chorar como uma maluca.
            - Eu sou quem sou.
            Ele reaproximou-se, no entanto, ficou mais longe do que quando me tentara beijar.
            - Isso é o que vamos ver daqui a uns tempos.
            E encostou os lábios à minha testa, deixando-os lá ficar durante quase um minuto. Fechei os olhos e senti o corpo a perder as forças. Não fazia ideia do que se estava a passar comigo, se aquilo seriam consequências do cansaço e do estudo de toda a semana, ou se eu estava apenas demasiado aluada com Chris para conseguir manter as pernas a suportar o meu corpo.
            Fosse o que fosse que se passasse comigo, adorei quando Chris envolveu o meu corpo com os seus braços fortes, impedindo-me de cair de joelhos à sua frente, e me abraçou contra si.
            - Mas fica ciente de uma coisa: não te vou deixar, mesmo que esse segredo que guardas seja pior do que eu imagino. E quando sentires que estás preparada para mo contar… eu estarei aqui para o ouvir.
            Assenti e depois rodeei a sua cintura com os meus braços. Não me estava a controlar pela cabeça. Queria apenas estar nos braços dele sem pensar em mais nada. Aquele afastamento tão radical da minha linha de controlo fez-me pensar que Kalissa se conseguiria soltar, mas esforcei-me por a manter bem longe para que não interrompesse o meu momento.
            - Desculpa Chris. Mas não te posso contar o que se passa.

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